DETALHES DO EGO
Basta alguns minutos de auto-observação sincera e constante para percebermos que na verdade não comandamos nossos atos. Absolutamente tudo, as sensações, impressões, reações, emoções..., tudo é regido por uma legião de egos que a gente mal se deu conta de sua existência, agregados psíquicos de todo tamanho, que ao contrário de nós, estão de fato conscientes de sua missão. Alguns tão pequenos e que reproduzimos há tanto tempo que nos custa muito identificá-los, mas que nos prejudicam tanto quanto qualquer outro no qual já estamos estudando.
A necessidade do ser humano em sempre querer ter razão no que diz, de convencer, de ser aceito, de se enquadrar está intrinsicamente ligada ao Ego. Se a auto-observação é oriunda de uma vontade consciente e de fato nos colocamos a morrer, veremos que nosso comportamento, nossas reações perante às situações, pessoas ou comportamentos são sempre as mesmas. A verdade é que normalmente somos impacientes, cheios de razão, fechados ao próximo, ou porque para nós ele está sempre errado ou porque não temos segurança em expressar nossa opinião sem ter o sentimento de desprendimento. Se mudamos, logo não cabemos mais nos lugares de antes, nas pessoas de antes, mas esse mundo também traz a nós (mesmo de forma inconsciente) um sentimento de falsa aceitação, já que pertencíamos aquele grupo que não fizemos mais parte. Isso é ego também, por exemplo: Uma pessoa que tem um grupo de amigos e toda sexta feira se reúnem para assistir uma partida de futebol. A atividade já é hábito e sem problema aparente, mas essa pessoa, ao iniciar uma mudança interna, começa também a analisar os seus hábitos, um pré-requisito para o processo do despertar. Ela iniciou o seu estudo por esse costume entre amigos, mas ao direcionar a lupa do observador de forma construtiva, viu que, hábitos ruins estavam relacionados com esses encontros, como falar mal das pessoas, o consumo descontrolado das bebidas alcoólicas, palavrões, deboche, intolerância... Os Egos não agirão somente enquanto esta pessoa reproduz esses defeitos com seus amigos, mas agirão primeiro com as desculpas que damos a nós mesmos. Quando identificamos um ego, se não caímos nas desculpas, os amigos agirão de formas diferentes, por exemplo, com a procura excessiva por você quando você parar de ir. Nenhum deles nunca lhe procurou tanto quanto no momento em que você decidiu não ir mais. Você ficará com sentimento de culpa (por não estar indo), sentirá que foi exagerado, os egos dos outros também trabalharão contra você e de repente parece que o mundo todo conspira para que você volte a frequentar esta atividade. Você passa a perceber que era importante dentro desse grupo, até achará que esses amigos são mais amigos que os outros, começará a mentir quando te ligarem convidando de novo, não saberá lidar quando um desses amigos lhe cobrar presença e quando se der conta notará que está inventando histórias para justificar o não comparecimento, sem perceber estes os outros defeitos atuando. Enquanto você acha que está matando um ego pelo fato de não ir está alimentando outros tantos.
A “caça” aos detalhes é um exercício exaustivo, permanente e indispensável ao trabalho gnóstico, do aspirante ao estudante desperto. A vigília não é opcional, ousaria dizer que é uma atividade doída, porque uma vez trabalhando com seriedade, também vamos nos dando conta do quanto estamos mal no trabalho, nos sentiremos como quem quer matar uma vespa no meio de milhares delas. Teremos a sensação de não evolução, de estagnação e como uma avalanche, seremos atingidos com tristeza e sentimento de fracasso. Todos passamos por essa parte, mas como disse o Mestre, a diferença está em como reagimos a isso, temos que recomeçar quantas vezes for preciso. Veremos que, na verdade, temos que agradecer os momentos de conflitos e não correr deles (como fazemos) e entender que a expressão “ego ferido” tem que existir como uma luta diária e não como indignação, por não ter sido reconhecido ou aceito.
A mecanicidade de nossos atos colabora ainda mais para que esses detalhes passem mais despercebidos ainda. Quando fazemos milhares de vezes a mesma coisa passamos a não pensar para executá-las. Quem de nós pensa e coloca atenção na hora de apagar a luz? De comer? De tomar banho? Estamos sempre fazendo mais de uma coisa ao mesmo tempo e nunca de forma concentrada, não prestamos a atenção na hora que trancamos uma porta e passamos o dia pensando “Será que tranquei a porta?” e achamos ruim que a noite não conseguimos nos concentrar, desdobrar ou lembrar dos sonhos. Cremos que o Desdobramento Astral virá de alguma atividade extraordinária que fizermos e a conquista dela, na verdade está nas pequenas coisas do dia, nos detalhes que nem percebemos.
Uma certa vez ouvi uma historinha curta, mas que me ajudou nesse processo de auto-observação. Permitam-me repassá-la, na esperança que esta cause o mesmo efeito em que causou a mim: “Dois monges andavam por uma floresta, o sábio e o aprendiz. Como faziam todos os dias, durante a caminhada, o sábio repassava os ensinamentos e como de costume, ao chegar no rio, os dois se deparam com uma moça muito bonita, perdida e sem conseguir atravessar, ela pediu ajuda ao sábio. Ele, como já era acostumado, sabia exatamente onde dava para atravessar, pegou a moça no colo e atravessou, voltou e continuou sua caminhada. Após o evento o aprendiz passou o resto do dia calado e ao final da lição o aprendiz questionou o sábio sobre a moça, disse que sempre nos ensinam sobre a castidade, sobre não se deixar levar pela luxúria, como que o sábio pode se deixar levar, a ponto de atravessar a moça?
O sábio sorriu e com muita paciência disse: - Eu atravessei o rio e deixei ela na outra margem, você está com ela até agora nos seus braços!
E assim somos nós, ficamos o dia inteiro, semanas e até meses encucados, identificados com coisas, situações, brigas, que na verdade são formas diferentes do ego agir. Isso faz com que não conseguimos nos concentrar no agora e não resolvemos nada dos problemas, do qual perdemos tanta energia nos preocupando. Se não nos damos conta disso saberemos identificar os egos diminutos, que nos mantém entretidos com essas situações? Sabemos como andamos?
Sabemos como reagimos ao encontrar pessoas que supostamente não gostamos? Porque os detalhes são chamados de detalhes porque não se manifestam somente no falar. Eles estão na reação, nas expressões faciais, nos gestos, na forma sarcástica de cumprimentar uma pessoa, nas risadinhas, nos suspiros...
Conseguimos identificar as reações físicas que esses egos nos causam? Cada ego provoca uma reação em nosso corpo antes de agir e se estamos atentos podemos aplicar a morte em marcha antes que se torne mais forte. Assim quando ele agir de novo conseguiremos estudá-lo mais a fundo.
Desta forma concluímos que a mente entende, mas não compreende. Sabemos o que devemos fazer, por onde seguir, mas não fazemos. Sabemos que essas ações são do ego, mas quantos deles nós realmente detectamos durante o dia?
Muitos de nós temos o hábito (e nem percebemos!) de andar na rua de cabeça baixa. Se no astral reproduzimos o nosso dia, quando começarmos a ter as nossas primeiras experiências, conseguiremos lembrar de algo se só olharmos para o chão? Como despertarei se me identifiquei com uma criança desconhecida que se acidentou na rua e passei o dia inteiro pensando nela?
Atentemo-nos irmãos, se não temos ou são poucas as nossas experiências em astral é porque estamos também errando no básico, se não vencemos nem os detalhes como venceremos as provas nos mundos internos? Avante!
Paz Inverencial!
Colaboração: irmãos gnósticos da S.O.S.
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